Ponte Metálica


(foto: Sicca Imagem)

Ponte Metálica Euclides da Cunha

Reconstruída pelo engenheiro-escritor, foi por ele denominada “irmã gêmea de Os Sertões”.

Inaugurada a 18 de
maio de 1901 e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a ponte passou por várias reformas e resistiu galhardamente à pior enchente do rio Pardo, a de 19 de janeiro de 1977, quando as águas ultrapassaram seu leito carroçável.

Atualmente
transitam por ela pedestres e veículos leves.

É a imagem mais representativa da cidade, figurando até em seu brasão e bandeira. (Prof. Márcio José Lauria)

A Ponte de Euclides

Uma ponte resistente, que não fosse levada pelas enchentes, era velha reivindicação dos rio-pardenses. Atrairia as safras de café da margem direita do rio e de Mococa.

O projeto para sua construção foi apresentado por três senadores: Ricardo Batista, Antônio Mercado e Silva Pinto Júnior, em 28 de junho de 1892, sendo uma das justificativas a que se segue: “(...) porque as relações de S. J. Rio Pardo com o Estado de Minas são vastas (...), sendo a ponte metálica a única que convém (...)”. O projeto tornou-se lei em 4 de agosto de 1892, autorizando o governo a construí-la.

Em 1896, o engenheiro Heitor Georgotich projetou a ponte em três lances de 33,36m cada um, tendo 100,08m de cumprimento, 6,60m de largura entre as vigas principais, e 4,50m entre os passeios. (Esta largura foi reduzida a 3,50m, em 1985, dando passagem a um só veículo). O custo seria de 256:617$080.

O projeto foi feito sobre os estudos de Henrique Duval, que atestou a existência de um rocha granítica no local.

As obras foram iniciadas em 22 de maio de 1896 pelo engenheiro Artur Pio Deschamps de Montmorency, ganhador da concorrência, comprometendo-se a importar a estrutura metálica.

Euclides da Cunha, em 1896, abandonou definitivamene a carreira militar, vindo para São Paulo, onde foi trabalhar na Superintendência de Obras Públicas.

Como fiscal veio a S. José duas vezes, em agosto e setembro de 1896. Em fevereiro de 1897, a ponte metálica, vinda da Alemanha, já estava em S. José. Euclides não mais veio à cidade da Mojiana. Entrou em licença em maio de 1897. Em agosto foi a Canudos (BA), como repórter de “O Estado de São Paulo”. Vê cair a Aldeia Sagrada e a morte do Conselheiro, em outubro. Abalado, voltou a S. Paulo no final de outubro, indo descansar na fazenda do pai.

Montmorency entregou e abriu a ponte ao público, em 3 de dezembro de 1897.

Em 20 de dezembro, o engenheiro F. Freitas, encarregado do relatório do recebimento da ponte, examinou um pilar partido. Expediu ordens para escorar a ponte. O empreiteiro só chegou na noite do desabamento.

Cinqüenta dias depois da inauguração, a uma da madrugada de 23 de janeiro de 1898, a ponte desabou. Emborcou. Houve escavação num dos pilares que rachou e cedeu à correnteza do rio cheio. (E os estudos de H. Durval de 1892?).

O jornal “Estadão”, de 25/1/1898, severo, em “Notas e Informações”, criticou a Superintendência e seus engenheiros... O “Correio Paulistano”, de 29, foi mais ameno. Abriu-se rigoroso inquérito. Artigos sobre a ponte ruída continuavam em “O Estado de São Paulo”, até abril.

Euclides pediu ao diretor da Superintendência, Gama Cockrane, que lhe desse o trabalho de reconstrução da ponte. Veio a São José, ficando três anos, com Ana, sua mulher, e os filhos Solon e Euclides Filho. Aqui, nasceu Manoel Afonso.

Em abril de 1898, expediu ofício de São José, criticando erros de montagem da ponte... Resolveu reconstruí-la e colocá-la a 60m da primeira, a montante, sobre uma rocha com melhores aparências. Sobras de material de uma ponte, construída em Guaratinguetá, vieram para São José.

O velho calabrês, ex-marinheiro, Mateus Volota, cuidou delas. No parque da oficina havia: “1 forja portátil, 1 bigorna, 2 carrinhos, 1 forja grande móvel, 1 rebolo, 1 torno de bancada, 51 folhas de zinco velhas, 3 baldes de zinco, 3 chaves inglesas, 12 chaves fixas, cabos para picareta, 2 machados, 1 talha automática, 3 tenazes sortidas, vários macacos, 1 bomba de mão, 500m de Trilho Decauville e 3 vagonetes Decauville, 3 barricas de correntes e 1 de parafusos, porcas e tarrachas”.“Esmolava” materiais e utensílios existentes em outras repartições...

Em janeiro de 1900 já estavam prontos os serviços de alvenaria. Em fevereiro, iniciou-se o conserto do material metálico, terminando em 17 de julho. Em julho, a ponte, como nova, estava montada em terra, com suas medidas originais, iniciando-se os furos das chapas de junção. A ponte de montagem foi construída. O aterro da margem esquerda, terminado. “No trabalho com metal, foram consertadas e fabricadas mais de 500 peças da ponte, num total de 120.200 Kg. As peças a serem substituídas pesavam, 23.454 Kg. Em 1901, a ponte estava pronta. Marcou-se a inauguração para 18 de maio.

 

A INAUGURAÇÃO

Euclides, tímido, não queria festas. Sugeriu que, com o conto de réis da Câmara para os festejos, se contratasse um para a ponte. Indicou o italiano calabrês, ex-marinheiro, e empregado na reconstrução da ponte, Mateus Volota. Dia 14 de maio de 1901, a seu convite, o intendente e os vereadores foram assitir à experiência de carga. A ponte não caiu, mesmo com as quatro carroças carregadas, passando sobre ela! Todos admiraram a beleza dos quatro lampiões que a Câmara ofereceu, enfeitando aquela obra de arte.

Dia 18 de maio de 1901, à 1 hora da tarde, autoridades e povo da cidade estavam lá, à beira-rio, admirando, com orgulho, o melhoramento. Fogos e as bandas “Filarmônica Italiana” e a do Circo Pinho alegraram a festa.

O padre José de Ancassuerd benzeu a ponte metálica alemã, que seria e é o símbolo da cidade.

O vereador Tarqüínio Cobra Olyntho anunciou o novo nome da alameda: Avenida Dr. Euclides da Cunha.

Dr. Jovino de Sylos emocionou-se ao receber a ponte em nome do povo.

Dr. Gama Cockrane, diretor da Superintendência, relatou a construção da grande obra, elogiando o engenheiro Euclides da Cunha.

Este recebeu dos amigos um presente: um taqueômetro e, à noite, ofereceu a muitos, em sua casa, uma mesa de doces.

A ponte, patrimônio histórico, é o símbolo de São José do Rio Pardo.

 

PINTURAS E REFORMAS

A ponte teve algumas pinturas e reformas, como as de 1944, 1953, 1957, 1970 e 1985. Em 1983, o relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) confirmou velha suspeita dos rio-pardenses: a ponte estava ameaçada pela corrosão e por uma trinca em uma das suas vigas, no vão central. Em maio de 1985, começaram as reformas. Foram trocadas peças danificadas, sem prejudicar as características originais da ponte. Recebeu uma pintura especial, com aplicação de fundo anti-corrosivo. Os passeios foram alargados, ficando entre eles a largura de 3,50m, para segurança da ponte e do pedestre. Foi entregue ao público, com festas, em 28 de dezembro de 1985. Foi restaurada sob o patrocínio do Departamento de Obras Públicas do Estado de São Paulo, vinculado à Secretaria de Obras, em convênio com a Prefeitura de S. José do Rio Pardo. Empresa responsável: Fábrica de Estruturas Metálicas - FEM (RJ).

Rodolpho José Del Guerra (professor, historiador, escritor)

(Fontes de consulta: “O Rio Pardo” e “Gazeta do Rio Pardo” (jornais) Relatório do Secretário da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. Antônio Cândido Rodrigues (1900) Conferência do Dr. Antônio Rodrigues da Gama: “A ponte de São José do Rio Pardo”, na Semana Euclidiana de 1953)

 

Voltar à página anterior