Variedades
Sábado, 19 de junho de 1999

Coluna Semanal
- Rodolpho José Del Guerra -

Nossas três pontes pênseis

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Quando escrevi "Ilha São Pedro: 95 anos de história", texto utilizado no belo folheto de inauguração do novo visual do logradouro, em agosto de 1995, transmiti aos leitores a errônea informação de que apenas duas pontes pênseis foram construídas, quando, na realidade, a atual ponte pênsil é a terceira.

Passou-me despercebido a queda da segunda ponte... Fotos do arquivo da família de Lupércio Torres, sem nenhuma anotação, alertaram-me do meu descuido e engano. Saí à caça de informações: ninguém nada me informava da segunda grande enchente que levou a segunda ponte suspensa. Recorri, então, ao arquivo de "Gazeta", vasculhando as edições do período da primeira gestão do prefeito Lupércio (1964 - 1968).

Em março de 1966, encontrei o que tanto procurava.

Revivi as chuvas incessantes que assolaram a cidade desde 7 de março. Dia 13, domingo, o Rio Pardo transbordou, invadindo o recanto euclidiano, o campo do Vasco e a Ilha São Pedro. A enchente levou melhoramentos construídos e em fase de construção da ilha: parque infantil, quadra de basquete, aquário, viveiro de pássaros, ajardinamento, praias artificiais, refeitório, cozinha, bar... Tudo estava sendo feito para acolher os esportistas e demais visitantes da Semana Euclidiana - 66.

Desolados, autoridades e povo assistiram a queda e o rolar de mais uma ponte pênsil.

 

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A primeira "ponte aérea sobre cabos de arame", com 145 metros de comprimento, próxima à metálica de Euclides, foi inaugurada em 12 de outubro de 1913. Com 16 anos, rodou, desaparecendo na grande enchente, no início de 1929.

 

 

 

ntptepe2.jpg (15411 bytes)A segunda ponte pênsil sobre cabos de aço, com menos da metade do comprimento da anterior (pouco mais de 60 metros), localizada onde está a atual, foi projetada por João Bergamasco, sendo responsáveis pelo serviço de pedreiros o sr. Adelino Pedro Gomes e, pelas ferragens, o sr. Alberto Flamínio. Foi inaugurada em 1939. Tão elogiada, sólida e perfeita, ninguém apostaria na sua queda. Com 27 anos, ela não resistiu à força da água que a levou, arrastada pelas águas de março de 1966.

 

A atual ponte pênsil, a terceira, entrou em funcionamento na Semana Euclidiana de 1966, cinco meses depois da queda. A Ilha estava sendo remodelada. Sólida e resistente como a ponte de Euclides, ela resistiu à destruidora enchente de 1977, cujas águas chegaram à plataforma da estação ferroviária, com a chuva decamilenar...

Portanto, nossa ponte aérea está comemorando, neste ano de 1999, 33 anos. E resiste.

Março de 1966. A forte chuva não parava. Rádios e televisões da capital e do Brasil informavam do possível rompimento da Usina da Graminha. O povo apavorado mais se amedrontava com os boatos de que a água da enchente chegaria ao largo da Matriz. O prefeito Lupércio Torres entrou em contato constante com o engenheiro-chefe da CHERP, Dr. Luís Gino Spinelli, que afirmava não terem fundamento os boatos: a tromba d’água caída na cabeceira do rio Guaxupé, provocando a súbita enchente, nenhum dano poderia causar às usinas. O prefeito palmilhou a zona ribeirinha, tranqüilizando a população. Mesmo assim, foram retiradas muitas famílias residentes às margens do Rio Pardo.

"Gazeta" publicou, no domingo seguinte, um emocionado agradecimento do prefeito ao movimento solidário da população, citando dez nomes e as siglas de seis firmas e entidades públicas. No final do artigo, Lupércio promete construir nova ponte.

No mês seguinte, abril, os cabos de aço para a reconstrução, solicitados pela prefeitura, em março, ao presidente da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, já estavam no local da obra. Em maio, foram iniciados os trabalhos da construção da nova ponte pênsil, que seria mais sólida e mais larga do que as anteriores. Em junho, a passagem de madeira provisória estava pronta, possibilitando o reinício da ornamentação da ilha devastada. A CHERP, construtora da ponte de concreto da Vila Maschietto, atendeu ao pedido do prefeito, emprestando a furadeira hidráulica para furar a laje no meio do rio, onde seria construído o novo pilar. Em julho, os três pilares já estavam prontos e os cabos de aço colocados, prontos para receber a cobertura de madeira e o assoalho...

 

ntptepe3.jpg (19102 bytes)Em agosto, os romeiros da S.E. - 66 puderam visitar a ilha que se remodelava, atravessando a ponte pênsil, bonita e sólida, construída em, apenas, cinco meses...

Só em novembro foram inaugurados o parque infantil, o aquário, o viveiro de pássaros e a nova iluminação.

Feliz, complemento um texto inacabado.

 

Rodolpho J. Del Guerra é professor de Cultura Brasileira, do Curso de História, da FFCL de São José do Rio Pardo