Variedades |
|
Coluna
Semanal
Quando escrevi "Ilha São Pedro: 95 anos de história", texto utilizado no belo folheto de inauguração do novo visual do logradouro, em agosto de 1995, transmiti aos leitores a errônea informação de que apenas duas pontes pênseis foram construídas, quando, na realidade, a atual ponte pênsil é a terceira. Passou-me despercebido a queda da segunda ponte... Fotos do arquivo da família de Lupércio Torres, sem nenhuma anotação, alertaram-me do meu descuido e engano. Saí à caça de informações: ninguém nada me informava da segunda grande enchente que levou a segunda ponte suspensa. Recorri, então, ao arquivo de "Gazeta", vasculhando as edições do período da primeira gestão do prefeito Lupércio (1964 - 1968). Em março de 1966, encontrei o que tanto procurava. Revivi as chuvas incessantes que assolaram a cidade desde 7 de março. Dia 13, domingo, o Rio Pardo transbordou, invadindo o recanto euclidiano, o campo do Vasco e a Ilha São Pedro. A enchente levou melhoramentos construídos e em fase de construção da ilha: parque infantil, quadra de basquete, aquário, viveiro de pássaros, ajardinamento, praias artificiais, refeitório, cozinha, bar... Tudo estava sendo feito para acolher os esportistas e demais visitantes da Semana Euclidiana - 66. Desolados, autoridades e povo assistiram a queda e o rolar de mais uma ponte pênsil.
A primeira "ponte aérea sobre cabos de arame", com 145 metros de comprimento, próxima à metálica de Euclides, foi inaugurada em 12 de outubro de 1913. Com 16 anos, rodou, desaparecendo na grande enchente, no início de 1929.
A segunda ponte pênsil sobre cabos de aço, com menos da metade do comprimento da anterior (pouco mais de 60 metros), localizada onde está a atual, foi projetada por João Bergamasco, sendo responsáveis pelo serviço de pedreiros o sr. Adelino Pedro Gomes e, pelas ferragens, o sr. Alberto Flamínio. Foi inaugurada em 1939. Tão elogiada, sólida e perfeita, ninguém apostaria na sua queda. Com 27 anos, ela não resistiu à força da água que a levou, arrastada pelas águas de março de 1966.
A atual ponte pênsil, a terceira, entrou em funcionamento na Semana Euclidiana de 1966, cinco meses depois da queda. A Ilha estava sendo remodelada. Sólida e resistente como a ponte de Euclides, ela resistiu à destruidora enchente de 1977, cujas águas chegaram à plataforma da estação ferroviária, com a chuva decamilenar... Portanto, nossa ponte aérea está comemorando, neste ano de 1999, 33 anos. E resiste. Março de 1966. A forte chuva não parava. Rádios e televisões da capital e do Brasil informavam do possível rompimento da Usina da Graminha. O povo apavorado mais se amedrontava com os boatos de que a água da enchente chegaria ao largo da Matriz. O prefeito Lupércio Torres entrou em contato constante com o engenheiro-chefe da CHERP, Dr. Luís Gino Spinelli, que afirmava não terem fundamento os boatos: a tromba dágua caída na cabeceira do rio Guaxupé, provocando a súbita enchente, nenhum dano poderia causar às usinas. O prefeito palmilhou a zona ribeirinha, tranqüilizando a população. Mesmo assim, foram retiradas muitas famílias residentes às margens do Rio Pardo. "Gazeta" publicou, no domingo seguinte, um emocionado agradecimento do prefeito ao movimento solidário da população, citando dez nomes e as siglas de seis firmas e entidades públicas. No final do artigo, Lupércio promete construir nova ponte. No mês seguinte, abril, os cabos de aço para a reconstrução, solicitados pela prefeitura, em março, ao presidente da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, já estavam no local da obra. Em maio, foram iniciados os trabalhos da construção da nova ponte pênsil, que seria mais sólida e mais larga do que as anteriores. Em junho, a passagem de madeira provisória estava pronta, possibilitando o reinício da ornamentação da ilha devastada. A CHERP, construtora da ponte de concreto da Vila Maschietto, atendeu ao pedido do prefeito, emprestando a furadeira hidráulica para furar a laje no meio do rio, onde seria construído o novo pilar. Em julho, os três pilares já estavam prontos e os cabos de aço colocados, prontos para receber a cobertura de madeira e o assoalho...
Em agosto, os romeiros da S.E. - 66 puderam visitar a ilha que se remodelava, atravessando a ponte pênsil, bonita e sólida, construída em, apenas, cinco meses... Só em novembro foram inaugurados o parque infantil, o aquário, o viveiro de pássaros e a nova iluminação. Feliz, complemento um texto inacabado.
Rodolpho J. Del Guerra é professor de Cultura Brasileira, do Curso de História, da FFCL de São José do Rio Pardo
|